Bissau, 1º de abril de 2020
I Kuma ña amigus i ermons? (No crioulo guineense: Olá queridos amigos e irmãos)
Completando mais um mês, o sexto, na África. Nem dá pra acreditar que estou aqui há quase 200 dias. E vivendo nesse último mês experiências totalmente inesperadas. Os primeiros 18 dias foram normais. Rotina da escola, finalizando o segundo trimestre e provas. Reuniões nas igrejas, com os professores do Projeto Educação para a Vida e com os missionários brasileiros aqui. E de repente: isolamento, o país parado, fronteiras aéreas e terrestres fechadas e o tão temível inimigo, o Covid-19, entre nós. Que mês! Mesmo diante do desconhecido, olho para trás e vejo o cuidado e a mão de Deus sobre nós. Tenho fortalecido a minha fé e creio que dias melhores virão. Obrigada pela sua fidelidade e apoio. Pela preocupação e, sobretudo, pelas orações.
“Choro”
A iminência da morte aqui na África mexe muito as minhas emoções. Na última semana, fomos acordadas por gritos desesperados e choro escandaloso. Depois, do susto inicial a primeira coisa que veio na minha cabeça foi a nossa vizinha, que alguns há dois meses, estava fazendo tratamento de saúde em Zinguichor (Senegal). Ela mesmo que havia morrido (não foi de coronavírus)! E diante do cenário de dor, eu entendi literalmente porque chamam a cerimônia da morte aqui de “choro”. Os africanos sabem bem expressar a sua dor. Durante todo o dia, ouvimos gritos e muito lamento. E isso tudo mexeu comigo, primeiro pelo fato de não podermos, por causa da pandemia, ir lá estar com eles e segundo porque eu fiquei pensando que diante da ameaça de mortes por essa nova doença esse será o som que ouviremos ecoar por todos os cantos do país.
Estado de Emergência
Desde a primeira quinzena do mês, o país estava alerta com a situação do surto de coronavírus no mundo. O que começou com uma simples medida de prevenção, ganhou reforços com a confirmação dos dois primeiros casos no país. Atualmente, são oito casos oficiais e cerca de 40 pessoas esperando o resultado de testes. Ajudas internacionais têm chegado a fim de auxiliar o sistema de saúde, que é bem precário. Diante da situação, foi decretado Estado de Emergência. Até 11 de abril, alguns direitos de liberdade foram restritos. Foi suspenso o deslocamento, com a proibição do transporte coletivo; fechamento de fronteiras; cancelamento de aulas nas escolas e universidades, além de suspensão de cultos e reuniões religiosas e aglomerações em feiras e mercados. Só os serviços considerados essenciais estão disponíveis. Estamos em casa, seguras, seguindo a recomendação do governo.
Ainda não temos como calcular os prejuízos de todo esse caos no país. Sobretudo, na escola, as crianças já contabilizam 15 dias sem aulas. Diferente do Brasil e outros países, aqui não são possíveis fazer aulas on-line já que não há acesso a tecnologia. Outra preocupação é com a questão do abastecimento. Guiné Bissau é um país pequeno (do tamanho de Sergipe) e com uma população de aproximadamente 1,8 milhão de habitantes, cuja economia é baseada principalmente na agricultura, especialmente de arroz e castanha de caju, e piscicultura. Todo o restante das coisas demanda importação e com as fronteiras fechadas não há como fazer o abastecimento. Além disso, o país possui um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta, com mais de dois terços da população vivendo abaixo da linha da pobreza. Infelizmente, essa é a realidade de quase todo o território africano.
Motivos de Oração:
* Ore pelos governantes. Que eles tenham estratégias para cuidar da situação e, sobretudo, oferecer atendimento às pessoas necessitadas. Que investimentos na área de saúde tanto financeiramente quanto em aparato humano continuem sendo feitos. Que haja generosidade!
* Ore para que a população obedeça às medidas impostas pelo governo e tenham consciência da gravidade do vírus. E para que não haja propagação do vírus no território. Que os casos atuais sejam tratados e não haja novos contágios.
* Ore para que a Igreja aqui seja voz de esperança, orientando o povo e que vidas sejam alcançadas e se rendam a Jesus. Que nossos irmãos sejam fortalecidos e se mantenham firmes no Senhor.
*Ore para que os prejuízos sejam os menores possíveis. Que os casos não evoluam para tratamento intensivo e que não haja desabastecimento e fome.
*Ore pelo continente africano. Hoje 46 das 54 nações enfrentam o Covid-19. Que uma solução seja encontrada para que os danos sejam reduzidos tanto na África quanto em todo o mundo.
*Ore por nossa saúde física e emocional. Estar longe dos familiares nessa época é bastante desafiador.
Com amor, Ana Paula Dourado Valença
(Contribuições: Banco do Brasil – Agência: 2883-5/Conta: 7036-X)
Casamento da missionária Mônica com Quissima em Suzana (direita). Encontro mensal de missionários brasilieros na versão on-line (centro). Adriana ministrando às mulheres da Igreja de São Paulo no Dia Internacional da Mulher (esquerda).
As caças dos ursos são serviços essenciais
Na comunidade onde vivo, vários vizinhos adotaram a prática de colocar um urso em uma janela virada para a rua. Aparentemente eles estão imaginando que as crianças do bairro, lutando com caos e isolamento, espionarão os ursos em uma espécie de caça pelas ruas do bairro. Paulo escreveu sobre algo semelhante. “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos (Ef 2:10)”. Em meio a todo o caos, há um que ainda está no controle. E Ele está pedindo que sejamos “serviços essenciais”. Nós somos essenciais porque Ele nos chama para sermos luzes na escuridão para um mundo buscando esperança. Em todo o mundo, nossos trabalhadores estão encontrando como nunca maior interesse em aprender sobre Jesus.
Obrigado pela parceira em capacitar esses “Serviços Essenciais”.
*Doug Lucas (Presidente da Team Expansion)
